O que você precisa saber sobre Apraxia de Fala da Infância (AFI)?
- Cíntia Bonfante
- 3 de jun. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de jun. de 2021
AFI é um transtorno motor para produzir os sons da fala. Esta dificuldade é relacionada ao planejamento motor
e sequencialização dos movimentos para produzir as palavras, ou seja, a criança sabe o que quer dizer, mas o cérebro falha quando envia as informações para a região motora oral. É como se lábios, língua, bochechas, mandíbula não conseguissem agir em sincronia e de forma coordenada para produzir a palavra.
De acordo com a American Speech – Language - Hearing Association (ASHA), a AFI é um distúrbio instável, neuro-funcional, dinâmico e que pode persistir até a idade adulta
O número de crianças com AFI varia muito de acordo com a etiologia/causa da apraxia. Além disso, é uma condição ainda pouco diagnosticada e muitas vezes pouco conhecida mesmo por profissionais da área.
Foi somente em 2007, que a A
SHA definiu o termo Apraxia de fala da infância, já que até então era conhecida por várias terminologias diferentes como dispraxia verbal, dispraxia do desenvolvimento da fala, apraxia desenvolvimental, dispraxia articulatória. Essa padronização de nomenclatura, irá facilitar consideravelmente as pesquisas na área e possibilitar dados mais específicos sobre a incidência do transtorno no público infantil.

Atualmente, sabemos que as causas são diversas sendo divididas em:
Idiopática ou pura: Quando não aparece nenhuma alteração em exames tradicionais como ressonância, tomografia. São aquelas crianças que não encontramos uma causa específica para o distúrbio, e que tiveram um desenvolvimento típico em todos os demais aspectos do desenvolvimento. Por exemplo, crianças que aparentam compreender tudo, mas não conseguem falar.
Adquirida: Ocorre após uma lesão cerebral como traumatismo craniano, acidentes vasculares cerebrais.
E pode também ser uma comorbidade à outras condições como Transtorno do Espectro Autista, Síndrome do X-Frágil, Trissomia do cromossomo 21. Além disso, crianças com histórico de intercorrências ao nascimento, prematuridade, doenças infecciosas, erros inatos do metabolismo também podem ser acometidos pela AFI.
É imprescindível buscar intervenção fonoaudiológica o quanto antes, quando a criança não está desenvolvendo a linguagem como esperado. Para diagnosticar AFI, o profissional precisa ter experiência em transtornos motores da fala, caso contrário, o diagnóstico pode passar batido ou nem ser cogitado.
Alguns sinais que são importantes para que possamos pensar na possibilidade de AFI são:
Histórico familiar de atraso de desenvolvimento da linguagem;
Bebês que balbuciam pouco, são mais quietinhos;
As primeiras palavras aparecem depois de 14 meses;
Compreendem mais do que conseguem expressar;
A criança tenta mas não consegue produzir a palavra;
Dificuldade em repetir as palavras, e muitas vezes cada tentativa elas articulam algo diferente ou po
dem conseguir falar apenas um pedaço da palavra;
Dificuldade articulatória aumenta de acordo com o número de sílabas da palavra;
Apresentam mais dificuldade em vogais por exemplo quer falar pé e diz pa;
Dificuldades específicas de prosódia (entonação da fala);
Pode vir acompanhado de outros déficits motores globais como: dificuldade de correr, pular e/ou motoras mais finas, como conseguir realizar corretamente brinquedos de encaixe;
Podem apresentar dificuldades de praxias orais como fazer biquinho para fazer beijo, assoprar, fazer movimentos como encher as bochechas de ar;
Podem ter alterações de sensibilidade intra-orais (dentro da boca), que irá afetar também a força de mastigação tendo preferência muitas vezes por alimentos mais pastosos.
Como a fala é muito importante para organização dos pensamentos, a criança pode ser também um pouco desorganizada no seu dia a dia.
Para podermos fechar o diagnóstico e determinarmos o grau da AFI, é preciso fazer uma avaliação fonoaudiológica minuciosa e específica. Precisamos considerar todos os níveis de linguagem e da fala, além de funções motoras orais como mastigação, sopro, sucção, motricidade oro - facial como um todo. Além da maturidade simbólica (forma que criança brinca), precisamos observar também o desenvolvimento emocional, cognitivo e comportamental.
Além disso, podemos realizar o que chamamos de intervenção diagnóstica, onde realizamos alguns meses de terapia para observar como a criança responde aos estímulos, nos auxiliando muito no quesito diagnóstico. Muitas vezes, encaminhamos também para avaliações complementares com geneticistas, neuropediatras, terapeutas ocupacionais para auxiliar nesse diagnóstico.
Importante ressaltar que só podemos oficializar o diagnóstico a partir dos 3 anos de idade. Mas não precisamos de um diagnóstico fechado para começar a intervenção, já que o tratamento precoce possibilita evoluções mais rápidas e significativas e por isso, deve ser sempre priorizado.
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